Brosogó, Militão e o Diabo
O melhor da nossa vida
É paz, amor e união
E em cada semelhante
A gente ver um irmão
E apresentar para todos
O papel da gratidão
Quem faz um grande favor
Mesmo desinteressado
Por onde quer que ele ande
Leva um tesouro guardado
E um dia sem esperar
Será bem recompensado
Em um dos nossos estados
Do nordeste brasileiro
Nasceu Chico Brosogó
Era ele um miçangueiro
Que é o mesmo camelô
Lá no Rio de Janeiro
Brosogó era ingênuo
Não tinha filosofia
Mas tinha de honestidade
A maior sabedoria
Sempre vendendo ambulante
A sua mercadoria
Em uma destas viagens
Numa certa região
Foi vender mercadoria
Na famosa habitação
De um fazendeiro malvado
Por nome de Militão
O ricaço Militão
Vivia a questionar
Toda sorte de trapaça
Era capaz de inventar
Vendo assim desta maneira
Sua riqueza aumentar
Brosogó naquele prédio
Não apurou um tostão
E como na mesma casa
Não lhe ofereceram pão
Comprou meia dúzia de ovos
Para sua refeição
Quando a meia dúzia de ovos
O Brosogó foi pagar
Faltou dinheiro miúdo
Para a paga efetuar
E ele entregou uma nota
Para o Militão trocar
O rico disse: ─ Eu não troco,
Vá com a mercadoria
Qualquer tempo você vem
Me pagar esta quantia
Mas peço que seja exato
E aqui me apareça um dia
Brosogó agradeceu
E achou o papel importante,
Sem saber que o Militão
Estava naquele instante
Semeando uma semente
Para colher mais adiante
Voltou muito satisfeito
Na sua vida pensando
Sempre arranjando fregueses
No lugar que ia passando
Vendo sua boa sorte
Melhorar de quando em quando
Brosogó no seu comércio
Tinha bons conhecimentos
Possuía com os lucros
Daqueles seus movimentos
Além de casas e terrenos
Meia dúzia de jumentos
De ano em ano ele fazia
Naquele seu patrimônio
Festejo religioso
No dia de Santo Antônio
Por ser o aniversário
Do seu feliz matrimônio
No festejo oferecia
Vela para São João
Santo Ambrósio, Santo Antônio
São Cosme e São Damião
Para ele qualquer santo
Dava a mesma proteção
Vela pra Santa Inês
E para Santa Luzia
São Jorge e São Benedito
São José e Santa Maria
Até que chegava à última
Das velas que possuía
Um certo dia voltando
Aquele bom sertanejo
Da viagem lucrativa
Com muito amor e desejo
Trouxe uma carga de velas
Para queimar no festejo
A casa naquela noite
Estava um belíssimo encanto
Se via velas acesas
Brilhando por todo canto
Porém sobraram três velas
Por faltar nome de santo
Era lindo a luminária
O quadro resplandecente
E o caboclo Brosogó
Procurava impaciente
Mas nem um nome de santo
Chegava na sua mente
Disse consigo: o Diabo!
Merece vela também
Se ele nunca me tentou
Para ofender a ninguém
Com certeza me respeita
Está me fazendo bem
Se eu fui um menino bom
Fui também um bom rapaz
E hoje sou pai de família
Gozando da mesma paz
Vou queimar estas três velas
Em tenção do satanás
Tudo aquilo Brosogó
Fez com naturalidade
Como o justo que apresenta
Amor e fraternidade
E as virtudes preciosas
De um coração sem maldade
Certo dia ele fazendo
Severa reflexão
Um exame rigoroso
Sobre a sua obrigação
Veio na mente os ovos
Que devia ao Militão
Viajou muito apressado
No seu jumento baixeiro
Sempre atravessando rio
E transpondo tabuleiro
Chegou no segundo dia
Na casa do trapaceiro
Foi chegando e foi desmontando
E logo que deu bom dia
Falou para o coronel
Com bastante cortesia:
Venho aqui pagar os ovos
Que fiquei devendo um dia
O Militão muito sério
Falou para o Brosogó
Para pagar esta dívida
Você vai ficar no pó
Mesmo que tenha recurso
Fica pobre como Jó
Me preste bem atenção
E ouça bem as razões minhas:
Aqueles ovos no choco
Iam tirar seis pintinhas
Mais tarde as mesmas seriam
Meia dúzia de galinhas
As seis galinhas botando,
Veja só o quanto dá
São quatrocentos e oitenta
Ninguém me reprovará
Pois a galinha aqui põe
De oito ovos pra lá
Preste atenção Brosogó
Sei que você não censura
Veja que grande vantagem
Veja que grande fartura
E veja o meu resultado
Só na primeira postura
Das quatrocentas e oitenta
Podia a gente tirar
Dos mesmos cento e cinquenta
Para no choco aplicar
Pois basta só vinte e cinco
Que é pra o ovo não gourar
Os trezentos e cinquenta
Que era a sobra eu vendia
Depressa, sem demora
Por uma boa quantia
Aqui, procurando ovos
Temos grande freguesia
Dos cento e cinquenta ovos
Sairiam com despacho
Cento e cinquenta pintinhas
Pois tenho certeza e acho
Que aqui no nosso terreiro
Não se cria pinto macho
Também não há prejuízo
Posso falar pra você
Que maracajá e raposa
Aqui a gente não vê
Também não há cobra preta
Gavião, nem saruê
Aqui de certas moléstias
A galinha nunca morre
Porque logo à medicina
Com urgência se recorre
Se o gogo aparecer
A empregada socorre
Veja bem, seu Brosogó
O quanto eu posso ganhar
Em um ano e sete meses
Que passou sem me pagar
A conta é de tal sorte
Que eu mesmo não sei somar
Vou chamar um matemático
Pra fazer o orçamento,
Embora você não faça
De uma vez o pagamento
Mesmo com mercadoria
Terreno, casa e jumento
Porém tenha paciência
Não precisa se queixar,
Você acaba o que tem
Mas vem comigo morar
E aqui, parceladamente,
Acaba de me pagar
E se achar que estou falando
Contra a sua natureza,
Procure um advogado
Pra fazer sua defesa,
Que o meu eu já tenho e conto
A vitória com certeza
Meu advogado é
Um doutor de posição
Pertencente à minha política
E nunca perdeu questão
E é candidato a prefeito
Para a futura eleição
O coronel Militão
Com engenho e petulância
Deixou o Brosogó
Na mais dura circunstância
Aproveitando do mesmo
Sua grande ignorância
Quinze dias foi o prazo
Para o Brosogó voltar
Presente ao advogado
Um documento assinar
E tudo o que possuía
Ao Militão entregar
O pobre voltou bem triste
Pensando a dizer consigo:
Eu durante a minha vida
Sempre fui um grande amigo,
Qual será o meu pecado
Para tão grande castigo?
Quando ia pensando assim
Avistou um cavaleiro
Bem montado e bem trajado
Na sombra de um juazeiro
O qual com modos fraternos
Perguntou ao miçangueiro:
Que tristeza é esta?
Que você tem, Brosogó?
O seu semblante apresenta
Aflição, pesar e dó,
Eu estou ao seu dispor,
Você não sofrerá só
Brosogó lhe contou tudo
E disse por sua vez
Que o coronel Militão
O trato com ele fez
Para às dez horas do dia
Na data quinze do mês
E disse o desconhecido:
Não tenha má impressão
No dia quinze eu irei
Resolver esta questão
Lhe defender da trapaça
Do ricaço Militão
Brosogó foi para casa
Alegre sem timidez
O que o homem lhe pediu
Ele satisfeito fez
E foi cumprir seu trato
No dia quinze do mês
Quando chegou encontrou
Todo povo algomerado
Ele entrando deu bom dia
E falou bem animado
Dizendo que também tinha
Achado um advogado
Marcou o relógio dez horas
E sem o doutor chegar
Brosogó entristeceu
Silencioso a pensar
E o povo do Militão
Do coitado a criticar
Os puxa-sacos do rico
Com ares de mangação
Diziam: o miçangueiro
Vai-se arrasar na questão
Brosogó vai pagar caro
Os ovos do Militão
Estavam pilheriando
Quando se ouviu um tropel
Era um senhor elegante
Montado no seu corcel
Exibindo em um dos dedos
O anel de bacharel
Chegando disse aos ouvintes:
Fui no trato interrompido
Para cozinhar feijão
Porque muito tem chovido
E o meu pai em seu roçado
Só planta feijão cozido
Antes que o desconhecido
Com razão se desculpasse
Gritou o outro advogado:
Não desonre a nossa classe
Com essa grande mentira!
Feijão cozido não nasce
Respondeu o cavaleiro:
Esta mentira eu compus
Para fazer a defesa
É ela um foco de luz
Porque o ovo cozinhado
Sabemos que não produz
Assim que o desconhecido
Fez esta declaração
Houve um silêncio na sala
Foi grande a decepção
Para o povo da política
Do coronel Militão
Onde a verdade aparece
A mentira é destruída
Foi assim desta maneira
Que a questão foi resolvida
E o candidato político
Ficou de crista caída
Mentira contra mentira
Na reunião se deu
E foi por este motivo
Que a verdade apareceu
Somente o preço dos ovos
O Militão recebeu
Brosogó agradecendo
O favor que recebia
Respondeu o cavaleiro
Eu era que lhe devia
O valor daquelas velas
Que me ofereceu um dia
Eu sou o Diabo a quem todos
Chamam de monstro ruim
E só você neste mundo
Teve a bondade sem fim
De um dia queimar três velas
Oferecidas a mim
Quando disse estas palavras
No mesmo instante saiu
Adiante deu um pipoco
E pelo espaço sumiu
Porém pipoco baixinho
Que o Brosogó não ouviu
Caro leitor nesta estrofe
Não queira zombar de mim
Ninguém ouviu o estouro
Mas juro que foi assim
Pois toda história do Diabo
Tem um pipoco no fim
Sertanejo, este folheto
Eu quero lhe oferecer
Leia o mesmo com cuidado
E saiba compreender
Encerra muita mentira
Mas tem muito o que aprender
Bom leitor, tenha cuidado,
Vivem ainda entre nós
Milhares de Militões
Com o instinto feroz
Com traçadas e mentiras
Perseguindo os Brosogós.
História de Aladim e a lâmpada maravilhosa
Na cidade de Bagdá
quando ela antigamente
era a cidade mais rica
das terras do Oriente
deu-se um caso fabuloso
que apavorou muita gente
Nessa cidade morava
uma viúva de bem
paciente e muito pobre
não possuía um vintém
dentro da sua choupana
sem falar mal de ninguém
Vivia bem satisfeita
nessa pobreza sem fim
tendo só um filho único
com o nome de Aladim
que apesar de ser travesso
ninguém lhe achava ruim
Aquele belo garoto
tinha um leal coração
mas fugia do trabalho
buscando a vadeação
era a mãe que trabalhava
para fornecer-lhe o pão
Aladim não trabalhava
seu emprego era brincar
e a sua mãe empregada
em uma roca a fiar
atrás de ganhar o pão
para o filho sustentar
Aladim um certo dia
pensando na sua vida
achou que estava fazendo
uma existência perdida
de causar muito desgosto
à sua mamãe querida
Chegando-se a ela disse
um tanto contrariado:
mamãe, perdoe os desgostos
que eu já tenho lhe causado
garanto que hoje em diante
hei de viver empregado
Saiu em busca da praça
atrás de colocação
agradou muito a viúva
aquela resolução
deu-lhe naquele momento
a sua santa benção
Da África tinha chegado
por aquele mesmo ano
um velho misterioso
de aspecto desumano
a quem o povo chamava:
“O Feiticeiro Africano”
Era um grande necromante
que de tudo conhecia
com o segredo da arte
de sua feitiçaria
viu que perto de Bagdá
um grande tesouro havia
Mediante a vara mágica
de força prodigiosa
soube ele que ali havia
uma gruta misteriosa
onde se achava escondida
uma lâmpada maravilhosa
Esta lâmpada tinha um gênio
que obedecia a ela
aparecia vexado
quando se apertava nela
pronto para obedecer
a quem fosse dono dela
Porém a lâmpada da gruta
não havia quem tirasse
só se fosse uma pessoa
que o segredo ignorasse
o velho andava à procura
dum homem que o ajudasse
O feiticeiro africano
com Aladim se encontrou
dos modos do rapazinho
ele muito se agradou
aproximando-se dele
desta forma lhe falou:
Se quiser eu lhe protejo
faça o favor de me ouvir
lhe farei feliz e rico
se com gosto me servir
não sofrerá mais pobreza
durante enquanto existir
Aladim lhe respondeu:
disponha do seu criado
estarei às suas ordens
pra fazer qualquer mandado
contanto que o senhor
me deixe recompensado
Inda disse o africano:
tenha confiança em mim;
foi depressa em uma loja
trouxe uma peça de brim
e de especial fazenda
trajou-se o moço Aladim
Se afastaram da cidade
cada qual mais satisfeito
até que ambos chegaram
num vale bastante estreito
fei nesse dito lugar
onde parou o sujeito
O vale era situado
entre dois morros sem fim
ali o velho parou
e olhando pra aladim
com frases autoritárias
lhe foi ordenando assim:
Junta os raminhos secos
que naquela árvore tem
e ponha fogo nos mesmos
não temas, escuta bem
irás agora ver coisa
jamais vista por ninguém
Aladim queimando os ramos
o velho se aproximou
sua vara de condão
pelo ar ele vibrou
e ali certos perfumes
sobre o fogo derramou
O moço ficou imóvel
prestando bem atenção
quando naquele momento
ouviu-se um grande trovão
começando a terra abrir-se
na mesma ocasião
Aladim morto de medo
olhava assombradamente
o pobre que até ali
ainda estava inocente
notou que dum feiticeiro
achava-se dependente
Ali tratou de correr
deixando o seu camarada
mas de surpresa o velho
deu-lhe uma grande mancada
que o mesmo caiu por terra
sem dar sentido de nada
O feiticeiro gritou-lhe:
miserável criatura!
tu não me juraste fé?
não quebres a tua jura
tira aquela grande pedra
ali daquela abertura
Na pedra havia ligado
um anel de ferro grosso
no qual pegou com as mãos
o obediente moço
que com o menor impulso
moveu o grande colosso
Quando ele tombou a pedra
de onde ela estava encerrada
viu-se uma cova medonha
aonde tinha uma escada
Aladim daquilo tudo
não compreendia nada
O feiticeiro ordenou-lhe:
agora tens de descer
já que me juraste fé
tu tens que me obedecer:
e pegou a ensinar-lhe
como devia ser
Primeiro tu passarás
por três salas asseadas
que de preciosidades
acham-se todas ornadas
e por um belo clarão
todas três iluminadas
Passe por todas depressa
sejas correto, Aladim
e bem na terceira sala
quando chegares no fim
verás uma porta ao lado
que entra para um jardim
No centro deste jardim
encontrarás com certeza
um belo pórtico de mármore
feito com muita beleza
em um nicho desse pórtico
tem uma lâmpada acesa
Segura nela de leve
depois de ter apagado
derrama dela o azeite
e voltarás bem apressado
fazendo como lhe digo
serás bem recompensado
Para maior segurança
leva este anel contigo
que é de grande vantagem
pois com verdade lhe digo
ele tem o poder mágico
de afugentar o perigo
O moço no mesmo instante
botou o anel no dedo
e desceu pela escada
nada lhe causava medo
curioso por saber
aquele grande segredo
Passou por tudo depressa
como lhe fora ordenado
quando ele entrou no jardim
ficou muito admirado
olhando a grande beleza
daquele sítio encantado
A passarada cantava
tudo ali mostrava um riso,
Aladim ficou pasmado
pensando que de improviso
por um sonho havia sido
transportado ao Paraíso
Encontrou naquele sítio
toda sorte de fruteiras
o vento soprava brando
entre as esbeltas mangueiras
sussurrando mansamente
nos galhos das laranjeiras
Bem no centro do jardim
o tal nicho ele encontrou
do qual tirando a lâmpada
com cuidado a apagou
e derramando o azeite,
na algibeira guardou
E saiu pelo jardim
andando mui distraído
do feiticeiro africano
estava quase esquecido
ligando pouca importância
do que tinha prometido
Das fruteiras do jardim
quando ele um fruto tirava
de repente o mesmo fruto
em vidro se transformava
mas ele não se importando
na algibeira os guardava
Quando encheu as algibeiras
de frutos que ali achou
e de mais preciosidades
que no jardim encontrou
para a porta de entrada
alegremente voltou
O velho sem paciência
olhou da boca da fenda
chamando por Aladim
gritando com voz horrenda:
anda depressa, maldito
dá-me logo essa encomenda!
Aladim não respondeu
ouviu e ficou calado
do feiticeiro africano
queria ficar vingado
devido à grande pancada
que este havia lhe dado
Tornou o velho a gritar:
dá-me a lâmpada, Aladim
o moço lhe respondeu:
mestre, não se vexe assim
descei para examinardes
as belezas do jardim
O feiticeiro africano
vendo que estava logrado
fechou a boca da gruta
raivoso desesperado
deixando o pobre Aladim
na caverna sepultado
Proferindo maldições
o velho se retirou
e naquele mesmo dia
para África embarcou.
Vamos tratar de Aladim
que na caverna ficou
O pobre Aladim ficou
em triste situação
a cova que até ali
se achava em belo clarão
tornou-se um ermo esquisito
de medonha escuridão
Três dias ele passou
errando na cova escura
sem achar naquele ermo
uma pequena abertura
sofrendo com paciência
sua cruel desventura
No fim do terceiro dia
quase não podendo andar
veio-lhe naquela hora
a lembrança de rezar
ali mesmo ajoelhou-se
e começou a orar
No momento em que ele
fazia a sua oração
casualmente moveu-se
na presente ocasião
o anel que ele trazia
no dedo mínimo da mão
Em mover o dito anel
que tinha no dedo seu
de uma bela claridade
aquela gruta se encheu
e uma visão horrenda
junto dele apareceu
Essa visão era um gênio
que o anel obedecia
se movendo ele no dedo
o gênio aparecia
e tudo que se mandasse
ele depressa fazia
A visão chegou e disse:
menino, não tenhas medo
que eu sou o gênio escravo
do anel que tens no dedo
o que mandar-me que eu faça
eu te farei muito cedo
Aladim aproveitando
aquela oportunidade
disse ao gênio: sendo assim
leva-me para a cidade
à casa de minha mãe
é esta a minha vontade
Apenas o moço tinha
tais frases pronunciado
pra cidade de Bagdá
foi depressa transportado
em casa de sua mãe
chegou bastante cansado
Por causa dos sofrimentos
que na caverna passava
chegou mais morto que vivo
porque com fome se achava
pois já fazia três dias
qu’ele não se alimentava
Sua mãe bastante aflita
vendo o seu sofrimento
foi buscar a toda pressa
um pouquinho de alimento
ele saciando a fome
cobrou de novo o alento
Depois que o moço Aladim
tinha comido e bebido
adquirindo de novo
o seu esforço perdido
contou logo a sua mãe
o que tinha acontecido
A sua mãe no princípio
quase nada acreditou
mas quando os frutos de vidro
e a lâmpada ele mostrou
da sua história toda
ela nada duvidou
Aladim disse: eu agora
vou estas coisas vender
para ver se algum dinheiro
com elas posso obter
e assim mais alguns dias
teremos de que viver
Disse a velha: para isso
não acharás comprador
somente esta lâmpada velha
pode ter algum valor
vou limpá-la para dar-lhe
um preço superior
Assim que a viúva estava
esse trabalho fazendo
apareceu de repente
um gênio alto e horrendo
que com um gesto espantoso
foi desta forma dizendo:
– Eu sou o gênio da lâmpada
pois vivo sujeito a ela
disposto a obedecer
a quantos pegarem nela
o que quiseres que eu faça
farei com toda cautela
A viúva ouvindo isto
deu-lhe logo um passamento
Aladim pegou na lâmpada
aproveitando o momento
para exigir do gênio
o que tinha no pensamento
Disse Aladim para o gênio:
se tu vens me obedecer
se és escravo da lâmpada
mostra-me o teu poder
trazendo-me alguma coisa
com que possa me manter
Quando o moço declarou
qual era o desejo seu
o gênio escutando tudo
uma palavra não deu
numa nuvem de fumaça
dali desapareceu
Desapareceu o gênio
depois voltou pressuroso
com uma porção de pratos
de metal mui precioso
que vinham todos compostos
de alimento saboroso
Trazia mais outros vasos
cheios de vinho excelente
antes porém que Aladim
lhe visse mais claramente
pousou tudo sobre a mesa
e fugiu rapidamente
O moço chamou a velha
com gesto amoroso e ledo
dizendo: mamãe, acorda
nada aqui lhe causa medo
que foi descoberto agora
da lâmpada o grande segredo
Quando a velha despertou
sentiu medonha surpresa
Aladim lhe contou tudo
e para maior surpresa
ela viu em sua sala
a comida sobre a mesa
Dali em diante Aladim
quando uma coisa queria
apertava a sua lâmpada
e o gênio aparecia
o que o moço ordenasse
ele depressa fazia
Assim viveu alguns anos
em completa liberdade
gozando com sua mãe
perfeita felicidade
procurando fazer parte
na alta sociedade
Passando um dia em frente
do palácio do sultão
viu uma linda princesa
de uma rara perfeição
Aladim sentiu por ela
a mais ardente paixão
tinha o nome de Clarice
esta linda criatura
olhos meigos atraentes
lábios cor de rosa pura
era o retrato de Vênus
a deusa da formosura
Quando ele chegou em casa
um pouco impressionado
contou logo a sua mãe
o que havia passado
que pela bela Clarice
achava-se apaixonado
A mãe pensou que seu filho
tinha perdido o juízo
aconselhou-o ternamente
com o mais doce sorriso
temendo aquela impressão
causar algum prejuízo
Ele então lhe respondeu:
eu não estou a brincar
quero que vá ao sultão
a fim de solicitar
a sua querida filha
para comigo casar
Leve os frutos que colhi
lá no jardim encantado
pois eles não são de vidro
como tínhamos pensado
e sim, pedras preciosas
dum valor mais sublimado
Entrega ao nobre sultão
este sublime presente
ele vendo este tesouro
ficará muito contente
e assim o que desejo
obterei facilmente
Dentro de um vaso de ouro
o qual chamava atenção
a velha botou as pedras
com a maior precaução
e logo seguiu em busca
do palácio do sultão
Chegou ela no palácio
decentemente trajada
porém só no fim do dia
lhe concederam entrada
no quartel do soberano
entrou bastante acanhada
Foi até ao pé do trono
chegando ali se prostrou
e levantou-se somente
quando o sultão lhe ordenou
que com palavras severas
depressa lhe perguntou:
Aqui neste meu palácio
o que vieste buscar?
a matrona respondeu-lhe:
venho vos solicitar
a vossa filha Clarice
pra com meu filho casar
O sultão ouvindo aquilo
riu-se indiferentemente
mas quando ela entregou-lhe
o magnífico presente
quase que morre de espanto
não coube em si de contente
Disse muito admirado:
agora sei com certeza
que teu filho é um senhor
duma raríssima grandeza
que possa dispor assim
de tão sublime riqueza
Volta para tua casa
vai a ele prevenir
que com gosto o casamento
eu poderei consentir
se mandar-me com urgência
o que eu vou exigir
Se por vinte escravos pretos
e vinte brancas de cor
me mandar quarenta vasos
dum esmerao primor
todos cheios de ouro e pedras
do mais sublime valor
Assim que o moço Aladim
recebeu aquele recado
agradeceu a viúva
falando com muito agrado
pelo serviço de amor
que ela havia lhe prestado
Dizia ele contente:
muito obrigado, senhora
com a princesa Clarice
eu hei de casar-me agora
o que o sultão deseja
arranjarei sem demora
Às doze horas da noite
levou a lâmpada na mão
pra uma extensa praça
de prolongada amplidão
que ficava bem na frente
do palácio do sultão
Chegando ali apertou
a lâmpada maravilhosa
quando chegou de repente
a visão misteriosa
perguntando o que queria
com sua voz estrondosa
O moço Aladim fitando
a poderosa visão
a qual nunca lhe faltava
com a sua proteção
foi logo lhe declarando
os desejos do sultão
– Quero com com muita pressa
desempenhe este mandado
quero também nesta praça
um palácio edificado
como nenhum sobre a terra
já tenha sido encontrado
Apenas o moço tinha
tais frases pronunciado
viu diante dos seus olhos
um palácio edificado
mais belo e bonito ainda
do que tinha imaginado
Ele entrou naquele prédio
com grande admiração
viu os quarenta escravos
que estavam de protidão
com as preciosidades
exigidas do sultão
O sultão no outro dia
contemplava da janeala
aquele grande edifício
de arquitetura tão bela
dizendo nunca ter visto
obra semelhante àquela
Assustou-se quando soube
que o grande personagem
dono daquele palácio
de admirável vantagem
estava se preparando
pra lhe render homenagem
Mandou logo convidar
os ministros da cidade
e formou no seu palácio
grandíssima sociedade
pra receber Aladim
que vinha com brevidade
Acompanhado da velha
mais tarde ele apareceu
com o maior regozijo
o sultão os recebeu
de palmas, bravos e vivas
todo o palácio se encheu
Aladim assim que foi
no palácio introduzido
mandou logo os seus criados
que ali os tinha trazido
entregarem os presentes
que o sultão tinha exigido
Na tarde do mesmo dia
celebrou-se o casamento
no palácio do sultão
um soberbo ajuntamento
felicitava os noivos
cheio de contentamento
Casou-se o moço Aladim
com a princesa Clarice
gozando do casto amor
daquela flor de meiguice
sem pensar que a desventura
contra ele inda surgisse
Mas enquanto ele gozava
a união conjugal
o feiticeiro africano
em sua terra natal
tramava grandes maldades
a fim de fazer o mal
Este velho um certo dia
mandou seus gênios no ar
pra da morte de Aladim
melhor se certificar
saber se a lâmpada mágica
inda estava em seu lugar
Os gênios quando voltaram
disseram ao velho então
que Aladim em Bagdá
era o genro do sultão
e ocupava na cidade
uma alta posição
Disseram mais que Aladim
belo palácio habitava
ao lado de sua esposa
a quem ternamente amava
e a lâmpada maravilhosa
em seu poder se encontrava
O velho sabendo disso
muito raivoso ficou
em direção de Bagdá
com raiva se encaminhou
em traje dum ambulante
naquela cidade entrou
Certo dia em que o sultão
e Aladim foram à caça
o feiticeiro chegou
bem disfarçado na praça
com cesto de lâmpadas novas
pra fazer sua trapaça
O maldito macumbeiro
soube seu plano formar
bem na frente do palácio
começou ele a gritar:
quem é que tem lâmpada velha
para por nova trocar?
A princesa que se achava
na janela debruçada
lembrou-se de uma lâmpada
já velha inutilizada
no quarto de seu marido
onde se achava guardada
Correu às pressas buscá-la
e disse a uma criada:
leve-a ao pobre tolo
pra ser por outra trocada
que parece gostar muito
de lâmpada inutilizada
A princesa não sabia
que lâmpada era aquela
e não podia estimar
o valor que tinha ela
porque seu marido nunca
tinha lhe falado nela
A negra levou a lâmpada
ao feiticeiro entregou
ele foi logo apertando-a
ali o gênio chegou
dizendo com voz tremenda:
às tuas ordens estou
O malfazejo africano
foi logo dizendo assim:
quero ver este palácio
com a mulher de Aladim
e todos os seus escravos
na África, no meu jardim
Ouviu-se um forte trovão
que a cidade estremeceu
no mesmo instante o palácio
do seu lugar se moveu
e girando pelo espaço
logo desapareceu
Quando o sultão e o genro
ambos voltaram da caça
acharam o povo todo
chorando a grande desgraça
que há poucas horas havia
se dado naquela praça
Disse o sultão a seu genro:
veja se pode arranjar
com que o palácio volte
com tudo a este lugar
ou dentro em pouquinhos dias
eu te mando degolar
E botou o pobrezinho
em uma triste enxovia
onde não tinha licença
de ver o clarão do dia
mas o verdadeiro herói
com paciência sofria
O infeliz Aladim
quando se achou na prisão
veio-lhe grande desejo
de fazer uma oração
pedindo a seu Deus Alá
sua grande proteção
Quando ele estava rezando
suplicando humildemente
o anel que tinha no dedo
moveu repentinamente
ali a prisão se encheu
de um clarão resplandecente
Essa grande claridade
deu-lhe um prazer sem fim
depois veio uma visão
que foi lhe dizendo assim:
sou o escravo do anel
o que desejas de mim?
Disse Aladim: se vieste
me livrar da cruel morte
nesta tal situação
de ti exijo um transporte
no lugar onde estiver
a minha boa consorte
O gênio agarrando ele
rapidamente o levou
no salão do seu palácio
na África ele se achou
a sua queria esposa
chorosamente encontrou
Disse ela: meu bom esposo
meu sofrimento é sem par
o feiticeiro africano
quer comigo se casar
oh! Seu eu não consentir
ele manda me matar!
Disse Aladim: se console
vou aventurar a sorte
pois trago comigo um vaso
contendo um veneno forte
que o ente que bebê-lo
não escapará da morte
Encha com este veneno
o copo do feiticeiro
que o velho há de bebê-lo
por seu excelente cheiro
e assim veremos logo
o seu dia derradeiro
Por trás de uma cortina
oculto Aladim ficou
dpois dum quarto de hora
o feiticeiro chegou
era a hora do jantar
da mesa se aproximou
Durante aquele jantar
a mulher ofereceu
o copo ao velho africano
ele com gosto bebeu
depois caiu no sofá
no mesmo instante morreu
O velho caindo morto
Aladim correu ligeiro
tirou-lhe do bolso a lâmpada
e disse mui prazenteiro:
hoje o feitiço virou
por cima do feiticeiro
Então apertando a lâmpada
viu logo o gênio surgir
e transportar o palácio
sem ele abalo sentir
em sua terra natal
foi de novo residir
Dali em diante Aladim
bem descansado viveu
depois de dois ou três anos
o velho sultão morreu
foi ele o único herdeiro
de tudo que era seu
Ele ficou sendo dono
da riqueza fabulosa
gozando da companhia
da sua esposa bondosa
sem precisar do auxíli
da Lâmpada Maravilhosa
Aquele velho africano
Na sua feitiçaria
Trabalhava com cuidado
Outro não lhe competia
Nada valeu no seu mal
Indo habitar afinal
O gelo da terra fria
Porque a negra ambição
Atrasa sem compaixão
Traz consigo a maldição
Amamentando a desgraça
Tira o dinheiro do nobre
Ilude a gana do pobr
Vê do indigente o cobre
A ambição onde passa.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
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os outros poemas q vc colocou lah no quadro a gent acha ond Thalles?
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